As Três Marias e as Novas Cartas Portuguesas
"As Novas Cartas Portuguesas", escrito em 1972, insere-se num regime de ditadura, liderado por Marcelo Caetano. A sociedade era uma sociedade opressora que, condicionava a mulher, negando-lhe direitos básicos de realização e de afirmação enquanto ser humano.
O livro "As Novas Cartas Portuguesas" tiveram na sua base três autoras, sendo elas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. No livro deparamo-nos com um conjunto de cartas datadas desde 1 de Março de 1971 a 25 de Novembro de 1971, onde se abordavam alguns temas considerados proibidos e chocantes para aquela altura, como por exemplo sexualidade, o prazer feminino, o desejo físico e desmistifica também o papel da mulher naquela época. Assim sendo, com este livro conseguimos ter a perceção do que era a vida da mulher naquela altura. As mulheres eram vítimas de maus tratos, obrigadas a casar, enclausuradas, enganadas, exploradas e, apesar de tudo, aceitavam a sua condição.
O livro foi acusado de "pornografia", "obscenidade", "atentado à moral pública" e a obra foi proibida pelo regime, tendo causado escândalo a nível internacional e uma onda de revolta dos movimentos feministas internacionais, que se expressaram através de manifestações. Este caso ficou conhecido como "As três Marias", o processo teve uma duração de dois anos, e só ficou concluído após o 25 de abril, a 7 de maio de 1974, tendo sido uma das primeiras manifestações feministas em Portugal e o livro como sendo um relato para a defesa dos direitos das mulheres.
Além disso, também foi nesta época que se marcou a maior rutura social na história dos movimentos das mulheres. Estas lutavam pela vontade de decidirem sobre a sua própria vida, o seu corpo e a sua sexualidade. Lutavam pelo poder de decidir onde queriam estar, e não nos lugares designados pelos homens e pela sociedade.
Desta forma, "As Novas Cartas Portuguesas", foram o impulso para o aparecimento dos movimentos feministas em Portugal, sendo que, no último dia de julgamento, na casa de uma das autoras, foi fundado o Movimento de Libertação das Mulheres. Este nunca foi registado como uma associação, contudo, teve um grande impacto a nível nacional e deu origem à liberalização do aborto; influenciou a defesa das mulheres na constituição de 1976; reconheceu o divórcio civil; deu ênfase aos direitos laborais das mulheres e à igualdade salarial; promoveu o combate à violência doméstica, tendo sido organizado, em 1987, uma conferência sobre o tema e esteve na base do nascimento de outros movimentos feministas.
- Maria Isabel Barreno
-Nasceu a 10 de julho de 1939, em Lisboa e morreu a 3 de setembro de 2016;
-Escritora e investigadora portuguesa;
- Nasceu num regime opressor, o Estado Novo;
- Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se licenciado em Ciências- Histórico-Filosóficas;
-Militante feminista;
- Começou por escrever poemas, tendo mais tarde começado a escrever romances, sempre voltados para a defesa dos direitos das mulheres;
-Foi convidada, várias vezes, para abordar os movimentos de "libertação da mulher", em conferências em universidades norte americanas;
-Ficou conhecida como o "cérebro" do trio
- Maria Teresa Horta
-Nasceu em Lisboa a 20 de maio de 1937;
-Militante feminista;
-Ativista, que relacionava as suas lutas feministas com as suas obras literárias;
-Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
-Chefe na revista
"Mulheres", cujo objetivo prendia-se com o feminismo
- Maria Velho da Costa:
- Nasceu a 26 de julho de 1938, em Lisboa;
- Faleceu a 20 de maio de 2020;
-Licenciou-se em Filosofia Germânica, na Faculdade de letras da Universidade de Lisboa;
- "Se uma mulher sozinha faz este barulho todo, imagine-se o que farão três." Esta frase, proferida por Maria Velho da Costa, impulsionou o início do trabalho destas mulheres.
A opinião das alunas
O livro é intemporal, pois passa a mensagem de que, apesar, das passagens do
século, as mulheres ainda continuam a ser alvo de alguns estigmas sociais.
Obras como esta, marcam etapas importantes ao longo da história, marcam um
avanço das mulheres, nas lutas pelos seus direitos e pela sua liberdade de
expressão. Graças a estes movimentos feministas e aos esforços feitos pelas
mulheres, vivemos atualmente numa sociedade menos opressora para com estas.
Porém, ainda existe um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade e
representatividade de todas as mulheres.
Trabalho elaborado por Juliana Carvalho, Mariana Santos, Patrícia Sousa e Claudia Juaniz, da turma do 3º ano da Licenciatura em Serviço Social 20/21, com base nas seguintes fontes:
Besse, M. G. (2006). As "Novas Cartas
Portuguesas" e a contestação do poder patriarcal. Paris, Latitudes,
(26), 16-20. Disponível em https://www.revues-plurielles.org/_uploads/pdf/17_26_04.pdf
Jesus, I. H. D. (2012). Novas Cartas Portuguesas: uma abordagem feminista. Faces de Eva, 43-52. Disponível em https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/5684
Cipriano, R. (2016, 03 de setembro). Morreu Maria Isabel Barreno, feroz defensora dos direitos das mulheres. Observador. Disponível em https://observador.pt/2016/09/03/morreu-maria-isabel-barreno-uma-das-tres-marias/
Almeida, São José. (2018). Homenagem a Isabel Barreno. Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, (40), 173-178. Recuperado em 10 de novembro de 2020, de https://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-68852018000200016&lng=pt&tlng=pt.
Faustino, M. (2014, 7 de abril) Maria Teresa Horta: percurso, memória e circunstâncias. Open Edition Journals. Disponível em https://journals.openedition.org/cp/635
Costa, T. (2013, 13 de janeiro) Entrevista a Maria Velho da Costa: uma for no deserto. Público. Disponível em https://www.publico.pt/2013/01/13/jornal/maria-velho-da-costa-25865926