Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher portuguesa a votar

22-11-2000

Carolina, filha de Emília Clementina de Castro Barreto e Viriato António Ângelo, nasceu a 16 de abril de 1878, no distrito da Guarda. Seguiu os seus estudos na Escola Politécnica e Médico-Cirúrgica em Lisboa onde concluiu o curso de Medicina em 1902. Nesse mesmo ano casou com Januário Gonçalves Barreto Duarte, seu primo, também médico e republicano. No ano seguinte, nasce a sua filha Maria Emília Ângelo Barreto. Em 1903, apresentou a sua dissertação inaugural "Prolapsos Genitais (Apontamentos)" e iniciou a sua prática, como a primeira cirurgiã portuguesa, especializando-se em ginecologia. Paralelamente à sua carreira médica, Carolina Ângelo reforçou a sua visão social com um ativismo cívico, político e principalmente feminista, defendendo a emancipação da mulher e acreditando em ideias como a educação para a independência e o divórcio, sendo mencionada numa das publicações do "Jornal da Mulher" de "O Mundo". Vale reforçar que Carolina Beatriz Ângelo lutou pelos cuidados de saúde e a sua inovação. Em 1907, participou na fundação do Grupo Português de Estudos Feministas, conduzido por Ana de Castro Osório. 

A 5 de Outubro de 1910, dá-se a Proclamação da República, tendo Carolina Beatriz Ângelo e Adelaide Cabete sido as responsáveis pela confeção secreta das bandeiras vermelhas e verdes, simbolizando a Revolução. A 14 de Março de 1911, foi publicada a Primeira Lei Eleitoral do Regime Republicano, não sendo explicitado que o direito ao voto estava proibido à mulher. A 1 de Abril, Carolina solicitou à Comissão de Recenseamento do Segundo Bairro a sua inclusão nos Cadernos Eleitorais. A 28 de Maio, votou nas Eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, tendo sido, assim, a primeira mulher a votar, no país e na Europa do Sul. No dia seguinte, imagens e cartas da própria, acerca deste feito, foram publicadas em vários jornais, contribuindo para reforçar a luta das sufragistas. Como consequência, a lei foi alterada, impedindo as mulheres de votar. No dia 3 de outubro de 1911, morreu de miocardite, aos 33 anos, após uma reunião política de "senhoras feministas".

Na sua carreira médica contrariava a tendência fortemente sexista dos blocos operatórios da época, e como suprarreferido foi a primeira mulher portuguesa a operar no Hospital de São José; defensora dos direitos das mulheres iniciou-se em 1906 no Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes; Em 1909, fez parte do grupo de mulheres que fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas; defensora dos ideais republicanos, do sufrágio feminino, do direito ao divórcio, da instrução das crianças e de direitos e deveres iguais para homens e mulheres; esteve envolvida na fundação da Associação de Propaganda Feminista. No âmbito da Associação de Propaganda Feminista projetou a criação de uma escola de enfermeiras; e reivindicava o direito ao voto feminino.

Tentando no direito ao voto, até ao início do século XX, praticamente em todos os países, era um direito exclusivo dos homens, especialmente daqueles que usufruíam de grandes posses e riqueza. Nesta época, mais concretamente em 1911, os direitos das mulheres eram escassos, isto é, o papel da mulher era restrito, sendo muito centralizado no contexto do lar e da família, estando estas principalmente direcionadas para a gestão das tarefas domésticas, cuja função principal era serem mães, esposas e donas de casa. No entanto, a meados do século XIX e inícios do século XX, iniciavam-se alguns movimentos revolucionários na luta das mulheres pelo direito à igualdade, nomeadamente, o direito ao voto, esta participação política pelo direito feminino, designava-se por movimento sufragista. 

Note-se que o contexto social nesta época, era caracterizado por ser desproporcional entre Homens e Mulheres, sendo que o direito ao voto era bastante categorizado, isto é, baseava-se em algumas restrições, tais como, género, raça, classe social e tudo aquilo que se considerava de real importância e que era representativo do século XX. O facto desta conquista, em 28 de Maio de 1911, de Carolina Beatriz Ângelo ser a primeira mulher a exercer o direito ao voto em Portugal, permitiu uma mudança no sistema, não apenas político, mas também a nível social, que antecedeu a muitas atuações sociais e acontecimentos históricos, como a revindicação do direito ao voto por parte das mulheres. Por fim, gostaríamos de acrescentar uma frase de Carolina Beatriz Ângelo que jamais deve ser esquecida: "Excluir a mulher (...) só por ser mulher (...) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e justiça (...).


Trabalho elaborado por Camila Calejo, Catarina Gomes, Diana Alves, Lara Barros e Inês Vilela, da turma do 3º ano da Licenciatura em Serviço Social 20/21, com base nas seguintes fontes:

https://www.acegis.com/2019/05/carolina-beatriz-angelo-a-primeira-mulher-portuguesa-a-conquistar-o-direito-ao-voto

https://media.rtp.pt/treze/heroisportugueses/carolina-beatriz-angelo/

https://eco.sapo.pt/2019/09/22/video-carolina-beatriz-angelo-desafiou-a-lei-e-foi-a-primeira-mulher-a-votar-em-1911/

https://www.publico.pt/2010/08/27/jornal/quando--as-feministas-influenciaram--o-poder-19991625

https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/Carolina-Beatriz-Angelo.aspx

© 2020 LUTO [EU]. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora